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BC corta juro de novo para segurar economia



Instituição reduz em 0,5 ponto a taxa básica de juros para atenuar efeitos da crise internacional sobre o Brasil

Expectativa é que inflação desacelere a partir deste mês, e fique dentro do limite fixado pelo governo em 2012

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM

DE BRASÍLIA

De olho no crescimento da economia no ano que vem, o Banco Central decidiu baixar mais uma vez a taxa básica de juros da economia, que serve como referência para os bancos fixarem o custo de empréstimos no país.
A taxa foi reduzida em meio ponto percentual, para 11,5% ao ano. O objetivo do BC é evitar que o agravamento da crise na Europa e nos Estados Unidos esfrie demais a economia brasileira nos próximos meses.
Ao justificar a decisão, o BC reafirmou em nota a estratégia que adotou para conter a inflação mesmo afrouxando os juros, principal instrumento de que dispõe para segurar os preços.
A decisão do BC era esperada pelos economistas do mercado, que em geral acham a escolha feita pelo BC muito arriscada, porque a inflação subiu muito neste ano.
O BC pretende fazer a inflação se reaproximar do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5%, no ano que vem. Nos 12 meses encerrados em setembro, a inflação atingiu 7,31%, acima do limite superior da meta, 6,5%.
Diante da expectativa do BC de que o crescimento mundial terá uma queda mais brusca, com reflexos na economia brasileira, chegou-se a especular nas últimas semanas que o corte poderia ser mais agressivo.
Mas a decisão de cortar a taxa em meio ponto foi unânime entre os diretores do BC.
Segundo assessores da presidente Dilma Rousseff, o governo espera que o afrouxamento dos juros dure o tempo necessário para evitar que a economia cresça em 2012 menos do que neste ano, quando o governo conta com uma expansão de 3,5%.
Um corte maior na taxa seria motivo de comemoração no Planalto, mas o governo também se preocupa com a inflação, que tende a crescer se a economia ficar muito aquecida. Por isso, o governo prefere que a redução dos juros seja feita num ritmo mais moderado, ao longo de um período de tempo maior.
Assessores de Dilma acham que o ideal seria chegar ao fim do próximo ano com uma taxa de juros de um dígito e crescimento da economia perto de 4%.
O Banco Central acredita que a inflação começará a cair a partir deste mês. Na avaliação do governo, o crescimento deste ano já está praticamente definido.
Agora, todo o trabalho da equipe econômica será voltado para garantir o crescimento da economia brasileira no ano que vem.

 

ANÁLISE

Falar em perda de autonomia do BC é leitura equivocada


CHRISTOPHER GARMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A decisão do Banco Central de começar a reduzir os juros em 31 de agosto pegou quase todos os analistas do mercado financeiro de surpresa e tem levantado dúvidas sobre a sua autonomia operacional.
Com a inflação acumulada em 12 meses rodando acima de 7,3%, bem acima do teto da meta de inflação (6,5%), foi comum a leitura de que a ação do BC teria sido fruto da orientação política do Planalto de privilegiar crescimento econômico em detrimento do controle da inflação.
Essa decisão, somada às investidas oficiais para evitar uma apreciação cambial, aumentou a preocupação de que o atual governo está gradualmente desmontando o tripé da política macroeconômica dos últimos 11 anos: disciplina fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante.
Não há como negar que a política macroeconômica tem sofrido ajustes relevantes. Mas colocar a decisão de reduzir juros na rubrica de uma "decisão política" que atropelou a autonomia do BC é uma leitura equivocada.
Primeiro, tudo indica que Alexandre Tombini compartilha da visão de assessores da presidente que a crise na Europa e nos EUA representa uma oportunidade histórica de reduzir a taxa básica de juros -que permanece uma das mais altas do mundo.
Segundo, a resolução do BC foi tomada em um contexto em que o governo optou por adotar uma retórica mais firme na política fiscal. Há sérias dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de superavit primário para 2012, dado o aumento do salário mínimo em 14% e as desonerações tributárias.
Mas a liderança do governo atribuiu urgência constitucional à reforma da Previdência do setor público, e o governo tem lutado contra novos aumentos de gastos.
Mesmo que o governo não consiga entregar uma nova política fiscal, seria equivocado concluir que nenhum esforço está sendo feito para pelo menos tentar ancorar uma política fiscal alinhada com juros reais mais baixos.
Se essa leitura estiver correta, pode-se chegar a duas conclusões. Primeiro, o BC permanece na posição de ditar a ritmo de queda de juros. Segundo, se a estratégia der errado, e a inflação ameaçar o topo da meta de inflação em 2012, o BC terá a liberdade para aumentar juros de novo.

CHRISTOPHER GARMAN é diretor para a América Latina do Eurasia Group. 

 
 
Fonte: Folha de S.Paulo

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