Em residenciais onde a mensalidade chega a R$ 12
mil, idosos ganham mais liberdade
EDISON
VEIGA - O Estado de S.Paulo
Faz cinco
meses que a estilista aposentada Fraya Sauer, de 80 anos, mudou-se para um
asilo. Ela mesma tomou a decisão. Levou junto seu carro. "É um Audi velho,
mas não fale que é velho, hein?! Adoro dirigir. Não abro mão de ter a liberdade
de sair para jogar boliche no clube e passear no shopping", conta ela,
que, quando mais jovem, era piloto amadora de aviões.
Aos
poucos, o preconceito que existia quanto a residir ou manter parentes mais
velhos em residenciais para idosos vai ficando no passado. Pelo menos quando se
fala em asilos top, que cobram até R$ 12 mil mensais e proporcionam uma vida
confortável e cheia de atividades na velhice.
"Quando
fiquei viúva, há dois anos, entrei em depressão e não me acostumei a viver
sozinha", conta Fraya. "Aqui me reencontrei. É minha casa. Tenho
amigas e muitas atividades. E, graças a Deus, não dependo de ninguém."
Opções. Inaugurado em 1972 e mantido pela
Liga Solidária - antiga Liga das Senhoras Católicas -, o Lar Sant'Ana fica no
bairro Alto de Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo, e tem
capacidade para atender 120 idosos. Morar ali custa a partir de R$ 7 mil - há
preços diferenciados conforme as necessidades do morador. Em julho, após uma
reforma, o residencial ganhou uma academia especialmente para a terceira idade:
com aparelhos de fitness importados da Finlândia, desenvolvidos para os
velhinhos.
O Residencial
Santa Catarina, mantido pela Associação Congregação de Santa Catarina - mesma
instituição filantrópica que gere o Hospital Santa Catarina -, fica no bairro
do Paraíso, perto da Avenida Paulista. Existe desde 2000 e atualmente é casa de
95 idosos - a mensalidade custa R$ 12 mil.
Com uma
escala de atendimento bem menor, o Residencial Verbo Amar - que funciona desde
2008 na Granja Viana, condomínio em Cotia, na Região Metropolitana de São Paulo
- abriga 14 residentes, que desembolsam de R$ 4,8 mil a R$ 5,5 mil por mês.
Vida
ativa. "Viver
aqui é como morar em um hotel cinco-estrelas", conta Anna Lyrs Guimarães
de Carvalho, de 87 anos. Ela vive em um residencial para idosos há cinco anos.
"Fiquei viúva e aí quis me mudar para cá. Saio e entro na hora que quero e
tenho uma vida com muita autonomia", conta Anna, que na véspera da
conversa com a reportagem tinha almoçado em um shopping com as amigas.
Aos 91
anos, a simpática Elza Gouveia Marques vai além: ela "trabalha" de
dentro do asilo. "Vivo de renda. Então, preciso cuidar de minhas finanças,
não é? Meu genro até tem procuração, caso precise resolver algo. Mas prefiro
tomar conta de tudo", diz.
Por
telefone, ela conversa diariamente com a imobiliária responsável pela
administração de seus imóveis de aluguel e, sempre que necessário, com o
gerente de seu banco. Para papear com filhos e netos, aprendeu a mexer no
computador. "Escrevo e-mails e mando recados pelo Facebook", diz
Elza. "É bom morar aqui porque a filha não manda tanto... Acho que é um
fim de vida até que bom."
Para ela,
o ambiente é muito familiar. "Eu já conhecia este residencial, porque
minha mãe morou aqui nos anos 1970 e morreu aqui aos 99 anos", relata.
"Mudei-me para cá há 9 anos, com meu marido. Era bom porque aqui a
estrutura dava condições para que nos preocupássemos apenas um com o outro. Não
fazia sentido eu ficar cuidando da casa enquanto meu marido estava doente. Ele
morreu há seis anos."
Morador
de um residencial há sete anos, o médico aposentado Nelson Merched Daher
mudou-se para lá com a mulher - que sofria de diabete e precisava de cuidados
constantes. Depois que ela morreu, ele continuou lá. Até há pouco tempo, saía
com frequência para atuar como voluntário na Associação de Assistência à
Criança Deficiente (AACD) - atividade que desempenhou por 16 anos.
"Atualmente, saio para ir ao barbeiro e para fazer compras", conta
Daher.
Ex-funcionária
de um escritório, Jenia Barros, de 86 anos, também sai com frequência do
residencial onde mora há um ano e meio. "Gosto de passear no shopping e de
ir ao salão de beleza", conta. Já o delegado aposentado Rubens Raphael
Dalle Luche, de 79 anos, que vive há 3 em um asilo, gosta mesmo é de
restaurantes. Este é o principal motivo que o leva a sair do retiro.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,gestao-de-negocios-e-ate-carro-em-asilo--,1074813,0.htm
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