A redução da taxa de juro no Brasil exigirá uma
mudança no acordo de renegociação das dívidas estaduais e municipais feito com
a União em 1997, um dos marcos históricos da regularização das contas públicas
no país. Os custos financeiros previstos nos contratos - com juros de 6% a 9%,
mais correção pelo IGP-DI - durante muito tempo implicaram subsídios, mas, com
os cortes da Selic, superam as taxas cobradas pelo próprio mercado. O governo
está ciente do problema e a presidente Dilma Rousseff já disse a interlocutores
que aceita negociar com os governadores as novas condições contratuais, desde
que a agenda também inclua temas de interesse da União.
Os senadores que lideram o movimento por condições
financeiras mais favoráveis para Estados e municípios avaliam que não adianta
mais só trocar o IGP-DI pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) como indexador dos contratos das dívidas renegociadas. Isso porque os
juros fixos previstos nos contratos (de 6%, 7,5% e 9% ao ano) tornaram-se
maiores que a taxa de juro real neutra prevista pelo mercado (5,5% anuais) e,
se acumulados à variação do indexador, qualquer que seja ele, ultrapassam a
taxa Selic. Em 2010, por exemplo, a Selic foi de 9,73% e o custo financeiro dos
Estados variou de 17,98% (para quem paga juros de 6% ao ano) a 21,32% (para a
Prefeitura de São Paulo).
Para os governadores, o que interessa de imediato é
a redução dos pagamentos mensais à União, que variam de 11% a 13% da receita
corrente líquida.
Para renegociar os contratos, o governo quer o fim
da guerra fiscal entre os Estados, com aprovação da unificação das alíquotas
interestaduais do ICMS, a definição de novos critérios para o Fundo de
Participação dos Estados (FPE) e um acordo sobre outros temas de interesse
geral, como o Plano Nacional da Educação e a chamada PEC 300.
Como a mudança dos contratos de renegociação das
dívidas implicará redução dos pagamentos mensais por parte dos Estados e
municípios, Dilma deseja que eles se comprometam a aplicar a diferença em novos
investimentos e não em gastos de custeio. A presidente quer que esse
compromisso seja explicitado em lei.
Para permitir a mudança nos contratos, o Congresso
terá que alterar a lei complementar 101 - a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em
seu artigo 35, a LRF proíbe que a União faça novos refinanciamentos.
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