Por Financial Times, de Londres
Com os eventos de 2011 começando a se
perder na memória - sendo a maior parte deles ruim do ponto de vista econômico
-, o quão nervoso está o mundo da contabilidade?
Em conversas com vários auditores e
reguladores sobre a temporada de balanços do ano completo de 2011, que se
inicia nas próximas semanas, fica-se com a impressão de que o sangue deles não
é bombeado com a mesma intensidade ansiosa como ocorreu no rescaldo da quebra
do Lehman Brothers, em 2008.
Uma fonte de confiança é o progresso
que foi feito na luta contra algumas das questões levantadas pela crise
financeira. No Reino Unido, por exemplo, contadores seniores sentem que a falta
de comunicação problemática entre auditores e reguladores bancários já foi
corrigida.
Isso deve tornar mais fácil uma ação
decisiva caso o financiamento seque para outra instituição financeira
britânica, como aconteceu com o Northern Rock em 2008, apesar de não resolver a
ineficácia das declarações sobre o conceito de "entidade em marcha"
no setor.
Segue sendo bastante improvável que
auditores questionem a liquidez de um banco em público por conta do perigo de
que a quebra da instituição se torne uma profecia autorrealizável.
Quanto a baixas contábeis de dívida
soberana, o setor contábil parece ter aprendido com as inconsistências dos
balanços do primeiro semestre de 2011, quando títulos do governo grego valiam
tanto cerca de 80% do seu valor de face como 50%, dependendo de qual banco se
analisava.
Os pessimistas ganharam esse argumento
e uma abordagem mais harmonizada já está em evidência nesse ponto. Mas apesar
da melhora considerável, também parece improvável que os bancos e as
seguradoras sejam levados a registrar perdas com títulos de dívida emitidos por
outros países da zona do euro - como a Itália - nos seus próximos balanços.
Ainda assim, ninguém descarta a
possibilidade de uma retomada repentina do caos visto há três anos,
particularmente depois do colapso recente da corretora americana MF Global e
das travessuras fora do balanço da japonesa de tecnologia Olympus.
Muitas empresas estão sob pressão,
particularmente em setores dependentes de gastos do consumidor no Ocidente.
Isso, combinado com nervosismo sobre a capacidade dos bancos para continuar
emprestando, torna desafiadora a avaliação sobre a continuidade de uma
entidade.
Reguladores e auditores também estão
destacando a necessidade de as empresas reduzirem algumas avaliações de ativos
a fim de refletir a deterioração das perspectivas econômicas. Intangíveis, como
o ágio - o ativo otimista criado quando o preço de uma aquisição excede o valor
dos bens comprados -, parecem particularmente vulneráveis.
James Kroeker, chefe da área de
contabilidade da Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado
de ações dos EUA, diz que o questionamento sobre o valor pelo qual estão
registrados os ativos deve percorrer "o balanço de cima a baixo".
Michael Izza, executivo-chefe do
Institute of Chartered Accountants da Inglaterra e País de Gales, relata que
alguns bancos da Europa continental devem levar realizar a baixa de alguns
ágios por expectativa de rentabilidade futura depois de uma reavaliação mais
pessimista das perspectivas das empresas adquiridas.
Enquanto isso, a importância crescente
dos mercados emergentes para multinacionais sedentas por crescimento é uma
complicação adicional, que não foi de modo algum um fator importante nos dias
sombrios de 2008. Em vez de as extrapolações contábeis misteriosas que se tornaram
comuns nas economias maduras, os auditores frequentemente lidam com cenários
bem mais básicos em lugares como a China. Nesses casos, é muitas vezes mais uma
questão de "você pode encontrar a prova de que o ativo existe?", em
vez de "você questionou as projeções da administração?".
No fim das contas, ainda há muito por
aí com o que se preocupar - mesmo que os contadores não estejam mostrando
sinais de tensão como nos dias iniciais da crise financeira de 2008.
Adam
Jones é colunista do Financial Times. As opiniões expressas neste artigo são
pessoais.
Fonte: Fenacon
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